História
A história da festa, apesar de antiga ainda vive, sendo o acontecimento mais esperado da comunidade, pois essa espera causa uma ansiedade para a chegada da festa que acontece a cada ano no Distrito de Santa Luzia.
A Festa da Fruta foi a primeira a ser realizada na cidade de Conceição de Castelo, a quarenta e oito anos, teve início para o bem local e continuidade pelo mesmo motivo. Seu valor histórico é incontestável, uma vez que, consigo traz as histórias de pertencimento dos agricultores locais, que são vistos como principal fonte de renda da região, que é predominantemente rural.
A importância cultural e o valor histórico da festividade faz movimentar a vida social, cultural e econômica do município, dai a necessidade do tombamento desta atividade que deve ser perpetuada na lembrança das futuras gerações de conceiçoenses. Dito isto, fica clara a necessidade de transformar a festa em um patrimônio histórico e cultural de Conceição de Castelo.
Contexto Histórico
Em Conceição do Castelo, há inúmeras festas que contam a cultura do seu povo. A Festa da Fruta faz parte de uma rede de festas que envolvem a cidade e seu povoado como um meio de não se perder a tradição e a memória local.
Equivalente a 0,79% do território estadual e com área 360km2, Conceição do Castelo tem formação no Aldeamento Imperial Affonsino povoado por Índios Puris que fixavam seus destinos nas florestas da região. O povoamento completou-se com a chegada de imigrantes Portugueses e Italianos que traziam consigo o trabalho ardo, tradição, religiosidade e a imagem de Nossa Senhora da Conceição que carinhosamente tornou-se o nome ao local de chagada, instalada como padroeira em 1900.
Através da Lei n.º 1909 de 06/12/1963, Conceição é emancipado tornando-se cidade levando o nome de Conceição do Castelo em homenagem aos belos vales da região e sua padroeira.
Realizada a primeira eleição no dia 09 de maio de 1964 o município rural cria sua própria autonomia se destacando na agricultura, preservando as belas cachoeiras, sua reserva de Mata Atlântica e sua forte cultura ancestral.
A Festa da Fruta em Santa Luzia, comunidade rural de Conceição do Castelo, povoada desde 1940 com a construção da atual Igreja tendo Santa Luzia como padroeira, é considerada a festa mais relevante que desempenha papel central na formação da identidade cultural local. A festa foi criada em 1966 após dois anos de emancipação política da cidade e sua criação se deu por moradores da região, Senhor Valdivino Zanoli e Josias Vieira de Melo (em memória).
Nesta época as pessoas tinham grande receio em consumir frutas misturadas ao leite, acreditavam que faria mal. O Senhor Zanoli, natural da comunidade, era um dentista que se mudou para Vitória capital do Espírito Santo, e sempre que retornava a comunidade tentava implantar o conhecimento que ia adquirindo. Ao ver que um município rural rico na agricultura com plantações de inúmeras frutas tinham receio em consumi-las, contou com a ajuda de Isabel Correia que coordenada o antigo EMATER atual INCAPER (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural) para ir à busca de uma forma para mostrar para as pessoas que esse receio não passava de um tabu e tinham como intuito convencer o povo que podiam comer as variadas frutas. Portanto, resolveram fazer a Festa da Fruta com sentido comunitário distribuindo gratuitamente salada de frutas e batidas de frutas com leite para todo o povo.
“No inicio o povo ficou com receio, mas quando descobriu que era de graça, comeu até se fartar e ninguém passou mal.” Conta Jovino Zanão, natural da comunidade de Santa Luzia, uns dos moradores mais antigos da localidade de Conceição do Castelo, colaborador e participante ativo de todos os anos de festa.
As saladas de frutas eram feitas inicialmente com a ajuda das professoras da escola local Derly Bispo Zoboli e Brasilina Côco Pinto. Após ser quebrado o tabu das frutas, a festa passou a servi como incentivo para os produtores rurais preocupar-se com as técnicas de cultivo, a fim de garantir boa qualidade das frutas, contando com a assistência técnica do IDAF (Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do ES), Sindicato Patronal Rural e o já citado INCAPER. Com apoio da Prefeitura de Conceição do Castelo.
Até 1983 a festa era coordenada pela Igreja de Santa Luzia que organizava os três dias de evento (Sexta-Feira, Sábado e Domingo), acontecendo sempre no ultimo final de semana de maio, os dias do evento eram disseminados com colheita das frutas, baile musical destacando a cultura sertaneja, missa enfeitada com frutas, bingo, exposição de frutas e premiação. A premiação era dada pela beleza da fruta, pelo tamanho e cor. As primeiras exposições e bailes aconteciam na escola da comunidade.
Importância para o Município
No dia 3 de agosto de 1983 o primeiro conselho do município foi formado e este levando o nome de Conselho de Desenvolvimento de Santa Luzia passou a coordenar o evento organizando a festa em apenas dois dias (Sábado e Domingo). Nunca mudado a data, a festa se tornou um meio para os produtores exporem seus produtos caseiros.
O dia de campo para os agricultores foi enriquecido com palestras técnicas sobre como cuidar de suas plantações, como cuidar das doenças das frutas e como comercializar os produtos colhidos. A exposição de fruta e bingo passou então a ser no galpão da igreja e a missa sempre reunindo inúmeros fies. Após a missa no domingo, meninas da comunidade com a idade entre 14 e 18 anos desfilavam na festa no concurso de Rainha da Fruta, na qual recebiam prêmios simbólicos, uma faixa e uma coroa para representar a beleza da festa.
Em 1986 com a realização de outras festas no município e região, a Festa da Fruta foi desmotivada pelos municípios vizinhos como conta Lucio Zanão que nos primeiros eventos mais de quarenta ônibus compareciam, porém nunca deixando de acontecer por incentivo dos produtores rurais que sentiam/sentem prazer em cuidar de suas plantações para apresentar o trabalho bem feito nos dias de festa podendo também vender os produtos em exposição.
Por condições climáticas e solo, a tangerina ponkan sempre se destacou na festa entre várias frutas cultivadas no município, como banana, abacate, laranja, graviola, jaca, caqui e mamão, destacando o município como agropecuário. Sendo de grande importância para a economia do município os produtores sempre apostaram no cultivo da muda e produção da fruta. Com isso eventos específicos sobre a ponkan foram aderidos à programação da Festa e novas avaliações da frutas no concurso da festa foram aderidos, como a prova do sabor e não so a cor, beleza e tamanho.
O Senhor Francisco Cassaro um dos primeiros ganhadores da festa com tangerina ponkan conta que trabalhavam o ano todo cuidando das mudas para que em maio pudessem colher as melhores frutas e concorrer aos prêmios que eram produtos agrícolas.
Organizado pelo SEAG e com apoio do INCAPER em março de 2010 o Governo do Estado implantou o polo de tangerina ponkan das montanhas do Sul do Estado com o objetivo de desenvolver o setor nos municípios prioritários. Compondo a área de abrangência do Polo de Tangerina os municípios de Domingos Martins, Conceição do Castelo, Santa Leopoldina, Venda Nova do Imigrante, Muniz Freire, Santa Maria de Jequitibá e Marechal Floriano.
O evento acaba sendo uma forma de buscar novos mercados e apresentar as frutas produzidas na região. Também é uma forma de incentivar os agricultores a produzir tangerina de qualidade. A mexerica ponkan se destaca por ser a fruta mais cultivada no município e já virou tradição.” Adilar Viana, extensionista do INCAPER expõe a importância da festa para a economia do município e produtores rurais.
No ultimo final de semana de maio de 2014 a festa completou 48 anos, tendo novos objetivos trabalhados nos últimos anos citados por Fernanda Pagio do Conselho organizador da festa, “alavancar a festa, trazendo de volta os costumes antigos”.
Com essa intenção em 2012 uma exposição de equipamentos antigos, utensílios particulares dos moradores locais foram expostos formando um rico museu históricos com pesas que contam da cultura e formação de uma comunidade e de uma festa que ela representa. Um engenho de madeira foi construído no pátio da Igreja pelos moradores mais antigos do local servindo de apreciação e informação para pessoas/visitantes que nunca tiveram a oportunidade de conhecer, fortalecendo o motivo cultural que estava se perdendo no tempo.
Na ultima festa em 2014, Jovino Zanão (já citado), construiu com a ajuda de outros moradores, uma casa de barro com fogão/forno a lenha como as simples casas antigas que funcionou durante o domingo no momento de exposição das frutas e distribuiu produtos caseiros feitos na hora para todos os presentes.
A de se ver que a festa é uma grande e importante vitrine para a agricultura do município, em 2013 70 mil caixas de ponkan foram exportadas devido ao melhor valor comercial e qualidade da fruta. Satisfeito com isso a atual intenção do conselho é revigorar a cultura do povo que construiu a festa, e não focar apenas no financeiro do evento, pois a preocupação dos antigos é que devido ao êxodo rural a festa acabe e por falta de incentivo da cultura local.
As comunidades rurais são comunidades participativas, acolhedoras e fortes quando se juntam o exemplo disso é que toda região abraçou a causa da Festa da Fruta para a festa prosperar e crescer cada vez mais, uma forma de retratar/guardar/cultivar a cultura de um povo que estava começando a construir a história de um novo município.
A Festa da Fruta é uma festa que com pouca divulgação recebe inúmeros visitantes apesar de ter tido uma mudança significativa nesse número. Fortalecida a cada ano, o evento se tornou tradição e símbolo para esse município acolhedor e de terras montanhosas. Resgatando cada vez mais uma história que é escrita a cada dia.
Tombamento
Baseado na importância econômica da festa para o município e analisando e pesquisando seu valor histórico que conta os primeiros acontecimentos que levaram à necessidade da estruturação da festa como ela é hoje. A valorização da diversidade de frutas nativas na região, a desmistificação do tabu de que consumir leite com alguns tipos de frutas faz mal ao organismo humano e a preocupação do êxodo rural para as grandes cidades, essas foram algumas das condições que levaram a Festa da Fruta a ser estruturada como ela é hoje.
A Festa é importante para os agricultores locais exibirem seus produtos com qualidade e bom valor de comércio, mas o sentimento de pertencimento da festa que traz consigo um valor cultural na luta pelo resgate da identidade dos primeiros moradores da região e claro dos idealizadores do evento, vai além da questão de comércio, pois faz com que toda a população do município tenha acesso à cultura vivida por seus antepassados, e que vem sendo repetida a cada geração, buscando nunca perder a ligação com o passado. A festa não tem um conhecimento a nível nacional, mas ainda assim recebe muitos visitantes e é importantíssima para a população local que valoriza tanto o evento, que provocam mudanças na forma de plantio, e plantam suas mudas antes do tempo para que no meio do ano mais precisamente em maio, possam colher as frutas com a melhor qualidade possível, ou seja causam transformações na produção para que na data da festa possam expor os mais diversos produtos cultivados na região. Para os moradores da região é um evento muito importante e por isso a necessidade do reconhecimento da festa como um patrimônio cultural imaterial, para que a gerações futuras tenham contato com essa história não apenas através de forma oral, passado de pai pra filho, mas que existam documentos oficiais que relatam os acontecimentos que originalizaram a festa e todos os motivos de preservação dela como patrimônio do município. A Festa da Fruta é de um jeito ou de outro a identidade de Conceição de Castelo e cada evento dentro dela representa a cultura do povo dessa localidade e tem para cada um uma importância significativa. O dia do campo que traz aos agricultores palestras de técnicas sobre o plantio tem a exposição das mais variadas frutas cultivadas na região, o bingo no galpão da igreja e a missa reunindo os fieis. Com o auxilio de entidades relacionadas a agricultura como o INCAPER (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural), o IDAF (Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do ES) e o Sindicato Patronal Rural local, a festa teve e tem até hoje uma qualidade na produção de suas frutas, tanto para consumo quanto para comércio.
E isso reflete no comportamento da população em relação ao sentimento da festa, onde se julga não ser apenas um evento corriqueiro que acontece de ano a ano, mas sim um retrato da vida social das comunidades rurais em volta de Conceição de Castelo e também da própria cidade. Portanto não se trata apenas de um evento cultural, mas de algo que entrelaça o passado com o presente e tenta estabelecer uma forma do futuro em volta da festa ser bem estruturado. E esse reconhecimento por parte da prefeitura, tendo a festa como um patrimônio cultural imaterial irá reunir o interesse público em preservar a festa para que não se perca na memória todos os relatos e acontecimentos já vividos. Os valores culturais que a festa traz, remetem à formação do município e sua emancipação, que colaborou para que moradores locais idealizassem o evento, como forma de festejar sua independência política e econômica.
Galeria de Fotos
Referências
Dossiê de tombamento de Patrimônio: Festa da Fruta
Alunos do Curso de História da Universidade São Camilo-ES:
Emanuel Martins
Mateus Vieira
Rayane Cassaro
Tatiane Passos
Thainá Saldanha
Fontes Documentais
FONTAN, José Coco. Elementos da história ed. 1. Editora Papiros. Vitória, 1998.
Conceição do Castelo em Cordel – FONTAN, Márcia Gomes; LOPES, Sandra Elvira Caçando; e PINTO, Dilcéa Ferreira.
INCAPER. Fonte: Campo Vivo. Disponível em: http://www.faes.org.br/noticias_detalhe.php?Cod_Noticia=2734. Acesso: 30/05/14, 04/06/14 e 09/06/14.
Fonte Iconográficas
Fotos deixadas pela comunidade na igreja de Santa Luzia. Zona agrícola de Conceição de Castelo